Amigos visitantes,

É com um imenso prazer que abro este espaço, com o intuito de centralizar reflexões e pesquisas referentes à música antiga. Há tão pouco tempo - uns 4 anos -, o estudo da música medieval, renascentista e principalmente a barroca, vem me despertando a admiração, curiosidade e paixão pela história e pensamento que deram origem as criações artísticas dos compositores que norteiam os períodos em questão. Devido a esse meu enorme fascínio sobre a música antiga, fui motivado à compartilhar minhas idéias e pesquisas informações com meus amigos e com os internautas amantes da música. Será um ganho abrir este espaço! Sejam todos muito bem vindos! Leiam, desfrutem, aprendam, compartilhem, sem moderação!

domingo, 29 de novembro de 2009

Claudio Monteverdi e o despertar da "Seconda Prattica"

Após ter finalizado - graças à Deus e com sucesso - a minha monografia sobre Caccini e Monteverdi, gostaria muito de deixar aqui algumas palavras remetentes à esse fantástico compositor que foi Claudio Monteverdi.


Monteverdi nasceu em Cremona (Itália), em 1567. Em vida, publicou 8 livros de Madrigais, levando este mesmo gênero ao máximo desenvolvimento, ao patamar de grande expressividade e dramaticidade.


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Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567-1643), também violinista, maestro e cantor, foi um dos grandes ícones do cenário estético-musical de seu tempo, tomando a arte musical como essência de sua vida. Seus trabalhos se tornaram inovadores, fundamentais na linguagem musical, marcos para a história da música.


Em acordo com os movimentos culturais de seu tempo, Monteverdi cunha sua arte na esfera dos sentimentos, da vida afetiva concreta, levando-a ao patamar de grande expressividade criativa. Tal como os humanistas, Monteverdi absorve dos filósofos gregos a idéia de que a relação entre alma e música medía-se pelo conceito de imitação. “No mundo artístico encontramos o termo Imitação, ou seja, a arte imitando coisas do mundo como são apresentadas a nós.” (PERSONE, 1991, p.23). Assim sendo, tomando de Pitágoras e Aristóteles esta concepção, Monteverdi considera a música não como mera representação dos sentimentos mas como a própria manifestação das paixões da alma. Desse modo, o compositor escolhe, para musicar, poesias como as de Rinuccini, Guarini e Petrarca, que revelavam em seus conteúdos a realidade humana: a exteriorização dos sentimentos e emoções do Homem. Por meio da intrínseca relação entre texto e música, que também se reafirma por meio do estilo recitativo (que faz com que o personagem do texto se torne um declamador), Monteverdi evidencia o humano: seu canto está a favor da expressão, do afeto, da dramaticidade. O recitativo permite à melodia imitar ritmicamente o dizer cotidiano, meio pelo qual o homem geralmente exterioriza seus pensamentos e emoções. O movimento melódico, vertical, acometeria assim a modulação de afetos, por imitar a modulação/entonação da voz.

Bom, não quero aqui aprofundar a escrita sobre o discurso de Monteverdi, mas sim destacar e exclarecer o novo momento musical que surgia naquela época, que deu início ao Barroco Musical: a "Seconda Prattica".



Muitas vezes, e principalmente a partir do seu Quarto Livro de Madrigais, escrito no ano de 1603, os madrigais de Monteverdi foram alvo de críticas, feitas por indivíduos que não compreendiam suas intenções composicionais e a expressão que atingia em suas obras. O teórico Giovanni Maria Artusi, cônego bolonhês, em sua obra L’Artusi, overo Delle imperfettioni della moderna musica (“O Artusi” ou “As imperfeições da música moderna”) toma como “imperfeição”, dentre outros exemplos, os madrigais de Monteverdi. As críticas de Artusi remetem-se, por exemplo, e essencialmente, às dissonâncias utilizadas pelo artista neste livro. Está claro que Artusi desqualifica a música de Monteverdi sob a ótica da prática musical tradicional - prática como a já pregada por teóricos como Zarlino. Para o cônego, as dissonâncias agrediam as regras pregadas pela arte do contraponto. Nesse sentido, na consideração de Chasin ("Música Serva D'Alma", 2009, p.121), Artusi acaba por condenar a intensidade de um canto, pois o discurso composicional de Monteverdi, orientado pela doutrina da mímesis aristotélica, se volta para a expressão da palavra e de seu sentido. Como forma de se defender das críticas de Artusi, e em resposta ao mesmo, Monteverdi escreve as seguintes palavras no prefácio de seu Quinto Livro de Madrigais, publicado em 1605:

“escrevi uma resposta para que saiba que não faço as coisas ao acaso, e, assim que estiver revista, virá a lume, trazendo no frontispício o título Seconda pratica overo Perfettione della moderna musica [Segunda Prática ou Perfeição da Música Moderna]. Alguns acharão isso estranho, não acreditando que exista outra prática além da ensinada por Zarlino. Mas a esse posso garantir, quanto às consonâncias e dissonâncias, que há uma forma de as considerar diferente dessa já determinada, que defende a moderna maneira de compor com o assentimento da razão e dos sentidos.”

O artista cremonense utiliza-se da locução “Seconda Prattica” para distinguir seus usos composicionais daqueles convencionados anteriormente, identificados como a Prima Prattica, que era esteada nas regras tradicionais do contraponto e que, na busca de uma complexa textura polifônica, obscurecia as intenções expressivas do texto. A expressão dos sentimentos que emanam das palavras tornava-se, então, o alicerce do novo discurso. Por esta ótica, a música de Monteverdi atende primeiramente ao sentimento, à expressão, exaltando algum afeto que a palavra traz, e aí se valerá de recursos como os cromatismos, as modulações, os ornamentos e as dissonâncias, segundo cada caso.

Assim, a Seconda Prattica reitera as práticas do Renascimento tardio, professados também pela Camerata Fiorentina, o que acabou por se constituir numa realmente nova estética na história da música ocidental. Estabeleceu-se, então, um novo conceito, o de uma monodia acompanhada, e também o de uma polifonia harmônica, rebuscada de dissonâncias, formulando uma relação íntima entre canto e poesia, ou música e texto, em função do signo dos afetos.

2 comentários:

Nínive Elisabete disse...

Olá, gostaria de dizer que sua publicação me ajudou muito em minha pesquisa. Obrigada.

NANDA CASTRO disse...

Olá, tambem me ajudou!;)

Menu Bibliográfico - Recomendações

  • "Música Serva D'Alma - Claudio Monteverdi" -- Ibaney Chasin
  • História da Música Ocidental - Claude & Palisca
  • História Univeral da Música - Roland de Candé
  • O Canto dos Afetos - Ibaney Chasin
  • O Discurso dos Sons - Nikolaus Harnoncourt
  • O Poder Oculto da Música - David Tame